terça-feira, 21 de setembro de 2010

atividade avaliativa: ILUMINISMO

Leia o artigo sobre o Iluminismo e faça uma redação de 15 linhas, analisando essa revolução e sua importância para a humanidade da época da modernidade e para hoje, abordando, em que sentido o Iluminismo beneficiou a humanidade e em quais aspectos.

Faça o texto manuscrito, em Português correto, para ser entregue na próxima semana, entre os dias 27 e 29 de Setembro.

Não serão aceitos plágios (cópias de outros autores).

Bom trabalho!

Artigo sobre o Iluminismo - 3o ano

O MOVIMENTO ILUMINISTA E SUA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA
PARA A CONTEMPORANEIDADE


RESUMO

Este Artigo Científico de revisão tem como propósito apresentar discussão acerca do Movimento Iluminista e sua importância para a contemporaneidade, sabendo que o referido período da humanidade foi muito importante para a transformação da sociedade moderna. A relevância do estudo se pauta na asserção de que o Iluminismo tem princípios que valem para os dias atuais, tendo como exemplo maior a liberdade de pensamento e decisão de cada indivíduo. É preciso compreender claramente as propostas de solidariedade e humanização do referido movimento, pois as questões discutidas são de importante valor e não podem ficar apenas na História e sem relevância para os povos. Entende-se que o resgate dos valores iluministas é urgente, por parte daqueles que desejam ver uma sociedade mais justa.

Palavras-chave: Sociedade. Solidariedade. Humanidade. Liberdade.

Introdução

As pretensões de um estudante, quando se debruça sobre os muitos documentos que deseja examinar, são por vezes ambiciosas ou limitadas. Ao tratar-se de um tema interessante como o é o Iluminismo, sente-se diante de um desafio à frente. A História da humanidade é repleta de movimentos revolucionários, seja a partir do uso da força física, seja a partir do convencimento dos ânimos dos povos. No caso do Iluminismo, a razão foi convencida e serviu de bandeira para a emancipação da humanidade.
A defesa da liberdade para todos os povos, na expressão dos seus sentimentos e vontades e a valorização do ser humano, como o ser que é capaz de conduzir-se iluminadamente pela vontade individual e coletiva, em harmonia com o meio natural e social, são propostas realmente importantes. As características deste movimento foram marcantes para o embasamento das modernas civilizações. Desta forma, a relevância do estudo se pauta na asserção de que o Iluminismo tem princípios que valem para os dias atuais, tendo como exemplo maior a liberdade de pensamento e decisão de cada indivíduo. E a proposta deste trabalho é observar o Iluminismo como movimento do passado, mas que tem consequências nos dias de hoje.
Documentos elaborados por teóricos que se debruçaram sobre o assunto mostram discussões importantes, as quais oferecem subsídios para que se possa fazer análises e chegar a um melhor entendimento acerca do significado e da atualidade do Iluminismo para a sociedade contemporânea. Os trabalhos de Arruda (2003), Azevedo (2007), Borges (2008), Cassirer (1997), Childe (2006), Crouzet (2004), Epape (2005), Falcon (2001), Figueira (2005), Kant (1995), Montesquieu (1995), Renaut (1998), Rouanet (2002; 2007), Stiglitz (2002) e Zajdznajder (1999) foram explorados e serviram de base para a elaboração do presente texto.

O que foi o Iluminismo

As propostas iluministas, quando do seu surgimento, ainda permanecem vivas. Para compreender melhor esta verdade, é preciso primeiramente estar inteirado daquilo que foi este tão importante movimento histórico. O termo Iluminismo indica,


Um movimento intelectual que se desenvolveu no século XVIII, cujo objetivo era a difusão da razão, a "luz", para dirigir o progresso da vida em todos os aspectos. Daí o nome Iluminismo, tradução da palavra alemã "aufklarung", que significa aclaração, esclarecimento, iluminação (ROUANET, 2007, p. 22).


O Iluminismo, mais do que um conjunto de ideias, foi uma nova mentalidade que influenciou grande parte da sociedade da época, de modo particular os intelectuais, a burguesia e mesmo alguns nobres e reis. Os Iluministas eram aqueles que em tudo se deixavam guiar pelas luzes da razão e que escreviam e agiam para dar sua contribuição ao progresso intelectual, social e moral e para criticar toda forma de autoritarismo, fosse ela de ordem política, religiosa ou moral.
Esse modo de pensar e de agir difundiu-se em muitos países da Europa, no século XVIII, o "século das luzes". Suas primeiras manifestações ocorreram, no século XVIII, na Inglaterra e na Holanda, com a contribuição do pensamento de Descartes, Newton, Spinoza e Locke. Mas o Iluminismo tornou-se um movimento especialmente forte na França, onde a crise do governo absolutista levou os filósofos a um debate profundo sobre a política e a sociedade de um modo geral (DIVALTE, 2005).
Mas teria ainda a Ilustração forças para influenciar o nosso presente? Seu legado ainda existe, mas está em crise. Sua bandeira mais alta, a da razão, está sendo contestada. Sua fé na ciência é denunciada como uma ingenuidade perigosa, que estimulou a destrutividade humana e criou novas formas de dominação, em vez de promover a felicidade universal. A crença no progresso expôs o homem a todas as regressões. Seu individualismo estimulou o advento do sujeito egoísta, preocupado unicamente como o ganho e a cumulação. Desta forma,


A crença na mudança das relações sociais como forma de implantar o paraíso na Terra levou a uma utopia concentracionária, e resultou na criação de todos os gulags. Sua cruzada desmistificadora solapou as bases de todos os valores, deixando o homem solitário, sob um céu deserto, num mundo privado de sentido (FALCON, 2001, p. 44).


Os iluministas franceses questionavam a divisão da sociedade em "estados" ou "ordens", que privilegiava a aristocracia, em detrimento da burguesia e do povo em geral. No campo da política, criticavam a teoria do "direito divino" e da "soberania absoluta" dos governantes, defendendo a ideia de que o Estado e o poder monárquico eram resultado, não da vontade pessoal, mas de um contrato entre governantes e governados.


A crítica ao absolutismo, formulada em fins do século XVIII pelo inglês Locke, foi aprofundada, no decorrer desse século, pelos franceses Montesquieu, Voltaire, Rousseau e pelos enciclopedistas. Das ideias de Locke e dos iluministas franceses surgiu a doutrina do Liberalismo. Durante o século XVIII, existiram na frança, à margem dos grandes pensadores iluministas, numerosos escritores que, por não conseguirem destaque para as suas obras, viviam no submundo, misturados a vigaristas, espiões da polícia. Em suas obras, mostravam um monarca indolente, cercado por auxiliares medíocres e corruptos. Suas denúncias apontavam para a podridão do regime, desmoralizando a monarquia diante dos súditos (ZAJDSZNAJDER. p. 57).


Livros como "Memoire sur la Bastilhe" de Linguet, e "Letres de cachet et prisons d'État", de Mirabeau, denunciavam como os prisioneiros eram tratados, revistados e atirados em cubículos fétidos, sem direito a julgamento, dormindo em colchões comidos por traças, enfrentando carcereiros violentos e tendo uma péssima alimentação. Esses livros, mesmo não tendo um programa de reforma para o Estado francês, denunciavam o poder ilimitado das autoridades que podiam meter na cadeia qualquer cidadão, sem julgamento, com uma simples "lettre de cachet" (EPAPE, 2005).
Ao denunciarem as arbitrariedades, o desperdício e o parasitismo da corte, que custavam enormes somas ao Estado e mais impostos sobre a população, os subliteratos tornavam as instituições do Antigo Regime desacreditadas, enfraquecendo os mitos de justiça e de equilíbrio que legitimavam o Monarca ais olhos do povo. O pensamento dos "phillosophes", como eram conhecidos os iluministas, não tinha como propósito conduzir a uma revolução. Os iluministas propunham a reforma do Estado, submetendo as monarquias absolutistas às restrições emanadas das leis aprovadas pelos parlamentos ou assembléias de representantes do povo. Eles consideravam necessário educar os monarcas, a fim de que estes pudessem preservar os direitos do cidadão e a liberdade do indivíduo.


Do ponto de vista econômico, os iluministas criticavam os monopólios, as restrições à produção de mercadorias por corporações de ofício, as leis de proteção a determinado número de indústrias e a intervenção do Estado na economia, considerada desnecessária (CROUZET, 2004, p. 32).


O modelo da reforma era a Inglaterra, que após a Revolução Gloriosa de 1689 manteve a Monarquia, porém com o poder controlado pelo Parlamento, formado por nobres e burgueses preocupados na defesa de seus interesses, tais como a propriedade, a liberdade de opinião e o poder de legislar. As ideias liberais dos iluministas tiveram grande penetração na França, onde um Estado falido e uma aristocracia apegada a seus privilégios tentavam, de todos os modos, opor-se as mudanças exigidas pela burguesia e pelo povo. Na Revolução Francesa de 17891 os princípios iluministas surgiram resumidos no lema revolucionário: LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE. No continente americano, as ideias liberais serviram para orientar os movimentos pela independência política das colônias (CASSIRER, p. 61).
Há em cada Estado, três espécies de poder: o poder Legislativo, o poder Executivo e das coisas que dependem do direito das gentes, e o Executivo das que dependem do direito civil (poder judiciário).


Pelo primeiro, o príncipe ou o magistrado faz leis por certo tempo ou para sempre e corrige ou ab-roga as que estão feitas. Pelo segundo, faz a paz ou a guerra, envia ou recebe embaixadas, estabelece a segurança, previne as invasões. Pelo terceiro, pune os crimes ou julga as querelas dos indivíduos. Chamaremos este último o poder de julgar e, o outro, simplesmente o poder Executivo do Estado. Quando na mesma pessoa ou no mesmo corpo de magistratura o poder Legislativo está reunido ao poder Executivo, não existe liberdade, pois pode-se temer que o mesmo monarca ou mesmo senado apenas estabeleçam leis tirânicas para executá-las tiranicamente. Não haverá também liberdade se o poder de julgar não estiver separado do poder Legislativo e do poder Executivo. Se estiver ligado ao poder legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário, pois o juiz seria legislador. Se estivesse ligado ao poder Executivo, o juiz poderia Ter a força de um opressor (KANT, 1995, p. 76-77).


A prática encontrada no pensamento pós-moderno está indo de encontro aos desejos de uma sociedade pautada na razão. É preciso fazer algo para resgatar os princípios iluministas, pois a razão precisa ser sempre a norteadora de toda e qualquer visão de mundo ideal para uma sociedade que se afirme justa e coerente. busca-se aqui, então, analisar e discutir abertamente as reais condições atuais, comparando-as historicamente com o que ocorria na Europa do Iluminismo, e dar razão à racionalidade das ideias e não ao racionalismo extremo. A existência de tudo está pautada pela lógica do raciocínio e o mesmo precisa ser convencido de quais verdades existem e quais são apenas conjecturas. Somente aprofundando os conhecimentos acerca dos fatos históricos, pode-se chegar à compreensão de que o Iluminismo beneficiou a humanidade.

As propostas do Iluminismo

Em meados do século XVIII o pensamento ocidental passou por uma completa reformulação, cujas consequências ainda hoje se sente. O que alguns autores costumam chamar de o início da modernidade, foi marcado pela tentativa de sanar o antigo problema da verdade e de sua relação com a linguagem sob uma ótica inédita até então.
Assim,

O pensamento iluminista criou para o ocidente a utopia da humanidade, a aposta na existência de um fundamento racional universal: os homens são os mesmos em toda parte, independentemente de suas eventuais diferenças culturais, quer saibam disso quer não, e por isso são capazes de comunicar e de produzir uma ordem social. Duzentos e cinqüenta anos mais tarde nos pergunta-se, ao vislumbrar-se o mundo herdado: o que teria acontecido com este projeto? (CASSIRER, 1997, p. 43).


É eminentemente moderna a ideia de que os homens devem se tornar melhores do que são. Esta é a proposta surgida a partir do século XVIII sob o nome genérico de iluminismo.
A pedagogia iluminista visava tornar acessíveis os conhecimentos e técnicas alcançados até então, bem como todos os que doravante se seguiriam, para toda a humanidade. Mais do que uma querela teórica, tratava-se, antes de qualquer coisa, de uma disputa política, um embate pelo lugar da verdade e pelo papel a ser desempenhado pela comunicação entre os homens. À perspectiva clerical, religiosa e dogmática que imperou por longo tempo surge a tendência de se contrapor um novo ponto de vista, mais bem fundamentado e livre de superstições e preconceitos, de dogmas e opiniões (CHILDE, 2006).
Do início do século XVIII até as vésperas da revolução francesa, um pequeno grupo de pessoas, os homens de letras, irá se impor à sociedade francesa como um força autônoma e legítima, tendo como princípio fundamental, não a origem nobre, mas unicamente a sua forma de pensar. A aparição deste novo personagem, que mais tarde será batizado de “intelectual” e cuja influência tenderá a crescer com o tempo, no entanto, não se fez sem disputas.
A este respeito pode-se citar uma história exemplar ocorrida com um dos pensadores mais célebres do período. No ano de 1726, François Marie Arouet, cognominado Voltaire, desentendeu-se com certo cavalheiro de Rohan-Chabot, membro de nobre família francesa, mas que, a parte este pertencimento, não era figura de qualquer relevância e que invejava o sucesso do escritor plebeu junto à corte. Um dos motivos do desentendimento foi justamente a questão dos nomes. O cavalheiro teria feito um comentário maledicente sobre o fato de que Voltaire mudara o seu. O poeta então respondera: “Eu estou começando o meu nome, ao passo que o senhor está acabando com o seu”. A frase é bastante significativa, pois aponta para o novo tipo de homem que começa a surgir: um que não precisa de berço para manifestar-se (ROUANET, 2002).
Rohan-Chabot ordenou então que dessem uma surra em Voltaire, e isto era inaceitável. O escritor moveu mundos e fundos para tentar punir o malfeitor, mas foi tudo em vão. Afinal tratava-se, antes de mais nada, de uma querela entre um nobre e um burguês, e isto era bem mais importante do que saber quem tinha razão. Voltaire acabou se indispondo com todos a quem pediu ajuda. Em certa ocasião encurralou o adversário numa ruela de Paris e acabou o dia na Bastilha. Em 1726 um aristocrata bater num poeta estava longe de ser considerado crime (ROUANET, 2002).
Não é apenas no terreno pessoal que o universo em que surgem os intelectuais era inóspito. No começo do século XVIII, três em cada quatro franceses eram analfabetos. Os poucos leitores potenciais tinham acesso apenas à literatura que tratasse dos modelos dominantes de pensamento tradicional, da ortodoxia moral e da palavra da religião oficial. De cada três autores, um pertencia à igreja; o quarto à nobreza. Esta situação se inverterá até o final do século, em que mais da metade dos autores passará a ser de plebeus (ARRUDA; PILLETI, 2003).
Os intelectuais irão reinventar o papel do escritor, que passará a ser ao mesmo tempo o porta-voz das necessidades e aspirações da sociedade e o pedagogo dessa mesma sociedade. Caberá a ele falar pelos que não tem direito a voz e ensiná-los a pensar e agir por conta própria, tarefa das mais complicadas e paradoxais, uma vez que, no mais das vezes o homem não aspira a pensar por conta própria, mas apenas a encontrar quem o faça por si.


O ideal do esclarecimento encontra-se explicitado principalmente na proposta de produção da “Enciclopédia” (ou “Dicionário de ciências, artes e técnicas”), palavra derivada do grego e formada pelo prefixo en (em) acrescido dos nomes kylos (círculo) e paideia (instrução, ciência, conhecimento), cuja razão de ser, no dizer de seu principal idealizador, era reunir todo o conhecimento que até o momento permanece espalhado sobre a face da Terra, tornar conhecida sua estrutura geral entre os homens do nosso tempo e transmiti-la àqueles que virão depois de nós, a fim de que o trabalho das gerações passadas possa ser útil para as que se seguirão, que nossos netos, a medida que tornem-se melhor educados, possam ao mesmo tempo tornar-se mais virtuosos e felizes e que não morramos sem termos sido merecedores de pertencer à raça humana FALCON, 2001, p. 59).


Na ideia de raça humana já está presente o modelo de homem pensado pelos enciclopedistas: ele é um só, malgrado todas as diferenças visíveis, de quaisquer ordens, sejam físicas ou culturais. “Muito mais do que meramente reunir conhecimentos e disponibilizá-los, a Enciclopédia tinha por princípio uma total reordenação da ideia de conhecimento” (FIGUEIRA, 2005, p. 67). Seu objetivo era levar a cabo o ideal que já se encontrava em germe desde a Renascença: a ascensão de uma nova forma de lógica que, em lugar de se contentar em classificar e ordenar o saber adquirido, quer ser um instrumento do saber.
Muda também a noção que o homem tinha acerca dos princípios. Alertando para a precariedade e relatividade da noção, Azevedo (2007) afirma que os chamados princípios não o são em si mesmos, isto é, não devem seu nome ao fato de nos presentearem com o princípio das coisas. Diferente da arché grega e dos grandes sistemas metafísicos do século XVII, aqui a ideia é a de onde ou por onde o conhecimento principia, situação em que o homem encontra-se profundamente implicado.
Não há qualquer ceticismo presente, mas a certeza de que nenhum limite intransponível é imposto à razão, que todo fim a que ela parece chegar é só um novo começo. O pensamento iluminista relativiza as noções de conhecimento, princípio e fim ao mesmo tempo em que valoriza a razão como o lugar onde os limites são postos à prova (AZEVEDO, 2005).
A nova ordem do pensamento só pode se dar em uma sociedade de homens de letras e de técnicos habilidosos trabalhando em conjunto com vistas a uma melhoria na raça humana e um sentimento de boa vontade compartilhada. Esta sociedade de homens esclarecidos é também um mundo da ética solidária e da universalidade da condição humana.


A perda do sentido divino, dado e inquestionado como um dogma de fé, o que Max Weber chama de Sinnverlust, se faz compensar por um avanço sem precedentes nas artes, nas ciências e na moral. O homem deve passar a assumir plenamente as conseqüências decorrentes de seus atos. Montesquieu diz que a justiça permanece constantemente idêntica a si mesma, seja qual for o sujeito que a conceba, seja Deus, um anjo ou um homem. Mesmo que não existisse nenhum deus, deveríamos amar a justiça e tudo fazer para nos igualar a um ser de quem temos uma ideia tão sublime. Libertos do jugo da religião, não estamos menos submetidos ao reino da justiça (ROUANET, 2007, p. 73).


A partir de uma crítica das transcendências verticais autoritárias, situadas fora e acima do sujeito, instâncias de caráter religioso responsáveis por tutelar o pensamento, a modernidade iluminista arrisca um primeiro passo em direção ao reino da imanência e da autonomia, tendo como motor a premissa de Kant (1995): Sapere aude (= tenha a coragem de fazer uso de tua razão).
Do modo como Kant coloca a questão, responsabilizando todos e cada um pelo estado de menoridade do pensamento, o iluminismo passa a ser, antes de qualquer coisa, um ato de coragem e de responsabilidade individual. Covardes, preguiçosos e, em última instância, responsáveis pela situação atual são todos aqueles que preferem delegar ao invés de decidir, seguir o caminho fácil de deixar o outro assumir o controle.
A preguiça e a covardia são as responsáveis por os homens continuarem, de boa vontade, menores e também porque a outros é tão fácil assumir o posto de tutores. É fácil ser menor quando se tem um livro que pense pelo leitor, um diretor espiritual que guie à consciência moral, um médico que prescreva uma dieta.


Os ideais iluministas hoje

A proposta do Iluminismo, em seu nascedouro, ia à direção da constituição de uma sociedade humana que superasse eventuais fronteiras geográficas, étnicas, religiosas e de quaisquer espécies que envolvessem dogmas, crenças e mitos. Como tarefa, colocava-se educar o homem para a humanidade. Entende-se que esta era, acima de tudo, uma tarefa que dizia respeito à comunicação no seu sentido mais amplo.

Esclarecer os homens a respeito do pertencimento a uma entidade superior, a humanidade, apresentava-se então como um projeto que, se levado a cabo, traria enormes benefícios, resultando na entrada de nossa espécie na sua idade adulta, idade da comunicação e do conhecimento plenos. O bom uso da razão, faculdade de há muito apontada como o próprio do homem, o livraria do erro, da ignorância, da superstição, tornando o mundo um lugar melhor para todos (CROUZED, 2004, p. 87).

Uma vez que todos os seres humanos passassem a fazer uso da razão, tanto para obter conhecimentos quanto para regular suas ações no mundo, a caminhada tornar-se-ia menos árdua e um futuro de progresso e prosperidade, de igualdade e liberdade se descortinaria. Neste processo que se avizinhava, e cuja realização plena era questão de tempo, a linguagem discursiva deveria ser a ferramenta primordial de ligação entre a razão humana e a verdade do mundo e entre o homem e a humanidade, donde o papel fundamental da comunicação para o bom desenvolvimento do processo.

Conclusão

Os iluministas de outrora afirmavam que, assim como há leis que regulam os fenômenos da natureza, também as relações entre os homens são reguladas por leis naturais. Os homens deveriam ser considerados iguais e a desigualdade porventura existente entre eles era provocada pelos próprios homens, isto é, pela sociedade. Essa situação só seria modificada, isto é, as desigualdades só seriam corrigidas, quando a própria sociedade mudasse e todos os homens tivessem liberdade de expressão e de culto, total proteção contra quaisquer tipos de escravidão ou injustiças. Assim, a opressão e as guerras não poderiam ser toleradas, pois deporiam contra a igualdade de direitos dos homens.
Desta forma, muito daquilo que se afirma no presente trabalho, incentiva um posicionamento crítico e conduz a afirmar que estamos nos defrontando com as mesmas questões que preocuparam os primeiros iluministas: a cultura, a tolerância, a liberdade, a paz e a razão. A tese de uma permanente reestruturação dos ideais que levaram ao movimento que está em discussão aqui é válida, pois somente com o apelo aos verdadeiros pilares da vida moderna, poder-se-á compreender e aceitar a transformação necessária.
O despotismo posicionando-se num extremo – com um discurso moralista e conservador – e o quase anarquismo no outro – disfarçado de democracia e liberdade –, deixam o mundo moderno aparentemente sem opções para viver plenamente, sem o pavor e o medo. Cabe a todos os homens conscientes da verdade a atitude equilibrada de dizer não à insensatez daqueles que conduzem ou se deixam conduzir por ideologias que apregoam um modelo caricaturado de ser humano. Assim, não será preciso voltar ao passado, mas aceitar que a História ensina a viver dias melhores.

REFERÊNCIAS

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EPAPE, P. Voltaire, o nascimento dos intelectuais no século das luzes. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

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STIGLITZ, Joseph E. A globalização e seus malefícios. São Paulo: Futura, 2002.

ZAJDSZNAJDER, L. Ética, estratégia e comunicação na passagem da modernidade à pós-modernidade. Rio de Janeiro: FGV, 1999.